ALÉM DA CONFISSÃO...

Olá pessoal... Tudo bem com vocês?

Desculpem-me pela demora!

Hoje, apresento a todos a primeira resenha literária do blog.

Espero que gostem! :)


Confesse, de Collen Hoover

É possível se apaixonar por um personagem literário?

Após alcançar o término de Confesse, de autoria da escritora norte-americana Colleen Hoover, pude alimentar tal certeza.

Originalmente lançado em meados do ano de 2015 e somente agora, em 2017, publicado em território brasileiro pelo selo Galera, pertencente à Editora Record, o livro apresenta-nos à história de Auburn e Owen, ambos jovens de vinte e um anos de idade que têm suas histórias entrelaçadas desde tempos pretéritos os quais jamais poderiam cogitar.

No caso, apaixonei-me não apenas por um único personagem, mas por dois. Os protagonistas, Auburn e Owen, cativaram-me não somente em razão das detalhadas descrições de cunho físico e psicológico promovidas por sua criadora no decorrer da obra, mas especialmente por suas trajetórias de vida intricadas e, ao mesmo tempo, demarcadas por tamanha sutileza.

Owen é dono de um ateliê de arte no qual produz e comercializa suas próprias criações artísticas a partir dos depoimentos - ou melhor, das confissões - que são depositados à sua porta por transeuntes. Auburn, recém formada, necessita de emprego para se manter e auxiliar na criação de seu filho, que vive junto aos avós paternos. Certo dia, ao passar à frente do ateliê, averigua a procura por pessoa que possa recepcionar e ajudar nas vendas das produções. A história se desenvolve a partir do primeiro - ou será segundo? - contato de ambas as personagens. Alegrias, decepções, anseios e medos são compartilhados entre os amigos que, mais cedo ou mais tarde, viriam a se atrair e a se tornarem bons amantes. Contudo, como no universo dos dramas ficcionais, bem como de nossas realidades, nem tudo são flores, a trajetória até então linear do casal é interrompida por Lydia, avó do filho de Auburn, e Trey, irmão de Adam, ex-namorado da garota. O pai de Owen, o célebre advogado Sr. Gentry, também se apresenta em algumas passagens do livro como um dos responsáveis pela atmosfera tensa e circundada por surpresas inerente à Confesse.

A autora, na época de feitura deste livro, inaugurara uma conta de Instagram para receber confissões de autoria dos apreciadores e leitores de suas demais obras. Inclusive, alguns dos textos foram utilizados anonimamente nos diálogos por intermédio dos quais Auburn e Owen conversam a respeito dos depoimentos deixados por populares. É a Internet demonstrando toda a sua capacidade de acolhimento e integração, estreitando as distâncias entre ídolos e seus fãs. Eis, esta, uma das inúmeras transfigurações que a Literatura Contemporânea experiencia - e na qual certamente se deleita - a partir do advento das novas tecnologias digitais e dos dispositivos de natureza eletrônica.

Hoover (2017) apresenta maneira demasiada peculiar de escrita, pois é extremamente detalhista e docemente lírica na maneira como nos apresenta a história de seu registro. Desde as indecisões atinentes à adolescência, até as complexidades do mundo adulto, a autora delineia, por entre receios e segredos, os caminhos seguidos por cada um dos personagens de seu livro - e como esperado, também as consequências de suas escolhas. 

Para além de quaisquer lugares-comuns ocupados por Confesse, sua narrativa é capaz de nos ofertar vislumbres acerca das popularmente denominadas coincidências da vida e, ainda, como a verdade se constitui a legítima trilha a ser por nós desbravada... Sempre.

O enredo da obra é categorizado como pertencente à seara New Adult, gênero literário de surgimento recente no mercado editorial, o qual já conta com alguns best-sellers.

A compreensão que a crítica hoje detém em relação ao New Adult se depara com os impasses outrora experienciados junto ao gênero Juvenil, já que, em meio ao percurso para se alcançar o consenso daquilo que seria de fato entendido como "juvenil", comumente se especulou a respeito das especificidades inerentes à escrita e às abordagens temáticas dedicadas ao público "juvenil" - e por falta de palavras ou expressões mais adequadas, menciono "juvenil" diversas vezes. Este, também, é um reflexo do quão ainda dificultoso se faz desenvolver algo vinculado ao público constituído por adolescentes.

Talvez, ainda, pelo fato de que, assim como a infância, também a adolescência corresponda a uma fase vital relativamente nova. E sendo esta uma fase de desenvolvimento recentemente concebida, recepcionada e acolhida por diferentes áreas do conhecimento - entre tais, a Psicologia, a Medicina e, além destas, a Literatura - não nos espanta as classificações e conceitualizações equivocadamente impostas ao universo jovem.

Pedro Almeida, repórter do website Publishnews, responsável por publicações relativas ao mercado editorial brasileiro, escreve-nos acerca do gênero New Adult: "[...] a categoria é definida por temas que interessam especificamente seu público: o jovem que inicia a vida adulta e passa por transições, como morar fora de casa, longe dos pais ou da família, a busca pela independência etc. [...]" (ALMEIDA, 2013, s/p).

Antes que nos perguntemos quem tal público mencionado por Almeida (2013) contempla, o repórter deixa-nos claro que é exatamente aqueles que, em algum específico momento, irão deixar de lado a Literatura classificada como Young Adult e, futuramente, poderão se aventurar por toda a produção de ficção comercial contemporânea.

A constatação de Almeida (2013) nos permite entender que ao gênero literário New Adult é atribuída a responsabilidade de preenchimento de lacunas ainda - sim, infelizmente - existentes no âmbito da indústria literária e livresca mundial, tal como ocorrera, outrora, com o denominado universo Infanto-Juvenil, que abarca, majoritariamente, obras cujo seu corpo de personagens experiencia contexto próprio à transição entre infância e adolescência. Neste sentido, citamos, à título de exemplificação, as obras Harry Potter (Rocco, 2000), de J.K. Rowling, e Percy Jackson (Intrínseca, 2008), de Rick Riordan.

E porquê este movimento de produção não se faz evidente para outras distintas fases do desenvolvimento? Ora, pois é justamente o público juvenil aquele que mais carece da criação de nichos literários especificamente a ele dedicado. Embora seja verdade, é preciso esclarecer que as editoras têm demonstrado, atualmente, certo interesse em também abarcar estes indivíduos ávidos pelo mergulho não só nos mares do ciberespaço, mas também na Literatura. A criação de selos especiais e totalmente voltados ao montante de obras produzidas para jovens leitores, além da produção de obras impressas em exímia qualidade, se figuram bons exemplos quanto a estas tentativas de melhor acolhimento.

Sem adentrarmos no mérito das discussões acadêmicas, as quais não pretendo aqui realizá-las, podemos sugerir a perscrutação por obras teóricas de autoria de estudiosos diversos, entre tais, Peter Hunt, Marisa Lajolo, Regina Zilberman, e tantos outros.

Confesse, assim como inúmeras outras produções literárias da contemporaneidade, também nos outorga a possibilidade de imersão no universo da convergência das mídias, outrora explanado pelo pesquisador norte-americano Henry Jenkins. Afinal, para além das páginas do livro impresso, a obra de Collen Hoover veio a se materializar nas telas dos aparelhos celulares. Por pouco - pelo menos não ainda - não se presentificou, também, nas aconchegantes salas de cinema.

A mini série, inspirada na narrativa em voga, possui sete episódios e foi produzida pela empresa Go90, cujo website, acreditem se quiser, é passível de acesso apenas em aparelhos móveis de telefonia. Obviamente, somos bombardeados por todas as apocalípticas questões atinentes à adaptação de livros para mídias outras, tais como a alteração de passagens ou a idealização de cenários e personagens até então desconhecidos do público leitor.

Discussões à parte, recomendo com louvor a leitura de Confesse. Principalmente, a todos os adeptos às peculiaridades deste novo gênero que inaugura uma "nova adultice" ou, ainda, àqueles que pretendem se aventurar e tentar se encontrar por entre as complexidades do mundo dos adultos - ou o mundo real, como bem preferirem.

Neste link é possível obter acesso à supramencionada reportagem de Almeida (2013).

Desejo uma boa leitura a todos vocês!

Por favor, deixem seus comentários! <3

Abraços... Até a próxima,

Jennifer.

Comentários

  1. Parabéns, Jenny! Seus textos são impecáveis e característicos, adoro seu estilo!! Quanto ao livro sou suspeita, pois sou fã e super recomendo as demais obras da brilhante Colleen Hoover. Bjs da Ká ;)

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    1. Karina,

      Fico feliz que você tenha gostado da resenha. Eu é que agradeço por você ter presenteado-me com essa obra tão incrível. Não vejo a hora de ler outros títulos da autora!

      Volte sempre! :)

      Abraços,

      Jennifer.

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  2. Boa noite,

    Essa é a primeira resenha que leio desse livro, gostei muito da premissa e fiquei bem curioso, nunca li nada da autora...ótima resenha...bjs.


    http://devoradordeletras.blogspot.com/

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    1. Oi Marco Antônio!

      Nossa, fico satisfeitíssima em saber que gostou da resenha.

      "Confesse" é um livro surpreendente. Impossível não gostar do enredo!

      Muito obrigada por sua visita. Volte sempre, oks? <3

      Abraços,

      Jennifer.

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